Meu coração, seco como o sertão.  

Posted by: Unknown

      É uma novidade, até mesmo para mim, mas eu me demiti do meu primeiro emprego. Achei que isso não seria possível, mas o destino enganou-me outra vez. Enfim, um dia desses passando por uma avenida aqui em Goiânia chamada T-63 a caminho do trabalho, eu percebi que havia um prédio novo, uma inauguração desconhecida, uma boate. E eu lembrei que aquele edifício estava em construção quando eu passei por ali nas primeiras vezes para alcançar a vaga do meu "atual-futuro-ex-emprego" (estou cumprindo aviso prévio). Ele ficou tão belo, tão imponente, e na minha opinião ele não ficaria assim. 

      Foi aí que eu comparei o seu crescimento com o meu... Há alguns meses atrás, em 2010, eu passava por ele 6 dias por semana, e dia após dia era acrescentado algum item importante à sua estrutura, assim como foi comigo também. Nos meses que passei trabalhando aprendi tanto sobre tantas pessoas em tão pouco tempo que hoje acho difícil manter uma opinião formada sobre elas. Eu comecei achando que as pessoas eram impacientes e que precisavam de carinho. Depois, achei que elas tinham muito carinho e reclamavam demais. Foi então que eu comecei a ter raiva das pessoas, a achar que nenhuma, até mesmo as que eu conhecia tão bem, eram como elas demonstravam. Agora, saindo da empresa, eu tenho a impressão de que todos os sentimentos que me indaviram simplesmente eram "ossos do ofício". É impossível você atender pessoas de todas as partes do Brasil, com culturas tão diferentes e não sentir nenhum sentimento por elas, mesmo que seja de 5 minutos ou 40.

     E foi daí que eu lembrei da minha casa. Eu era intolerável para meus familiares, a maior parte das vezes, e para outros eu era doce e pacata. Me lembrei de como conseguia ser amorosa e irritante, o que me fez ter pena de mim, que agora conheço a situação de saber como realmente é uma pessoa e saber que os outros não compartilham da minha opinião. Eu fiquei tão seca que não consegui mais amigos, só loucura na minha mente, quase despedacei meu "casamento" e minha vida, porque sempre está faltando alguma coisa em mim. Não adiantava ler os horóscopos, os quais não me tinham mais significado. Então eu lembrei que o que me fazia feliz era a segurança do lar, dos conhecidos e amigos, da família. Da música cearense que embalou a minha infância, da praia com a família, da história do sertão como algo espiritualmente evoluído. Adoro esta cidade, amo o meu marido, mas eu seria tão mais feliz se eu tivesse novamente a oportunidade de estar lá, talvez de entrar nas histórias do meu povo e sentir como realmente é viver. 

     Meu coração estava tão seco como o sertão por eu não ter admitido isso antes. Mas de vez em quando eu danço xote sozinha, imaginando como seria se fosse lá, como uma menina adolescente que perdeu a infância por pensar sempre em ir tão longe na sua vida... E eu estou bem longe, mais longe do que jamais estive. Eu não reconheço os lugares, eu não faço amizades, parece que tenho medo. A única forma de viver agora e não chorar pelo passado é não esquecer as raízes e que por mais que eu detestasse na época, aquele era o meu melhor lar e não importa o quanto eu o negue, eu sempre o amarei.